Equipa

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A Faten nasceu em Damasco, em 1980. A sua vida alterou-se bruscamente ainda antes da guerra, quando perdeu o marido. Ficou sozinha com as suas três filhas, mas apenas duas vieram para Portugal consigo, em 2016. A mais velha, de 20 anos, está ainda na Síria, para onde a Faten espera um dia voltar. Até lá, trabalha na cozinha do Mezze, onde se tornou exímia a fazer yalanji (rolinhos de arroz embrulhado em folha de videira), ainda que a sua comida favorita seja o kibbeh (pequenos bolos de carne e especiarias).

Chegou a Portugal em 2016 com o marido e três filhos, vindos de Hama, no centro-oeste da Síria. Trabalhava com o marido numa loja de material dentário. Ainda esteve dois anos num restaurante em Lisboa antes de vir para a cozinha do Mezze. Mas, aqui, encontrou uma equipa que fala a sua língua e, por isso, decidiu ficar. Sente-se em casa. Toda a comida que ajuda a preparar a leva de volta à sua terra, mas se tivesse de escolher só um prato ficava com o kibbeh de carne.

Nasceu em Mossul, no Iraque, em 1988. Trabalhava no Ministério da Juventude e do Desporto quando teve de abandonar o seu país e evitar pegar em armas. Depois de uma paragem na Turquia e na Grécia, acabou por vir para Portugal com a mulher e o filho de dois anos, em 2017. O seu prato favorito é o yalanji (dolma, em iraquiano), folhas de videira recheadas de arroz e especiarias. O Mouhamad não sabe como as fazer, mas a mulher dele sim. E as cozinheiras do Mezze também!

Veio da região de Alepo e depressa conquistou o seu próprio lugar no Mezze. Dá o seu melhor na confecção dos pratos e no serviço. Tem sempre um sorriso amável para oferecer a quem cruzar o olhar com o seu.

A Shiraz nasceu em Afrin, no Curdistão sírio, em 1970, mas vivia em Alepo com os seus quatro filhos e a avó até ser obrigada a fugir. Em 2016 arriscou a travessia entre a Turquia e a Grécia, onde esteve um ano até vir para Portugal, com dois dos seus filhos. É o sorriso do Mezze e uma grande especialista em kibbeh, uns bolinhos de bulgur que tanto podem ser vegetarianos como de carne (como os que faz no restaurante). Também gosta de fazer mahashi (legumes recheados com arroz e especiarias). Será um dos pratos na mesa quando finalmente conseguir que o marido, que continua na Síria, receba o visto para se juntar à família.

O César nasceu em Pemba, no Nordeste de Moçambique, em 1962. A guerra civil fez a sua mãe partir para Portugal e ele, o último de sete irmãos, acabou por vir também, aos vinte anos. Mais tarde acabaria por tentar a sua sorte em Nice (França), onde viveu praticamente duas décadas, trabalhando numa estação de comboios. Em 2011 voltou para Lisboa e depois de passar por alguns bares e restaurantes veio ajudar a abrir o Mezze. O prato que o transporta directamente para Moçambique é o lumino (peixe frito com mandioca e leite de côco), mas adora a mujaddara (bulgur com lentilhas e cebola frita) que se serve no Mezze.

É de Calcutá, a zona da Índia onde, garante, se come melhor! Estava a fazer um bacharelato em Gestão na Ucrânia quando a guerra lá estalou. Veio para Portugal e acabou por ficar a fazer serviço de mesa no Mezze. Gosta do contacto com os clientes e agradece a paciência que tiveram consigo quando ainda não dominava bem o português. A aprendizagem da língua é mesmo a parte melhor do seu trabalho.

Trocou o estado indiano de Gujarat por Lisboa, para se juntar ao marido, que já cá estava. O Mezze é o seu primeiro emprego de sempre. Gosta da sensação de receber um salário ao final do mês e da autonomia que isso lhe dá. “Vim para ter um futuro melhor. Aqui ganhei independência. É muito bom para mim e para a minha filha. Sustento a minha família.”

Quando entrou no Mezze, encontrou uma realidade totalmente diferente daquela a que estava habituado: pausas para oração ao longo do dia, diálogos em árabe, uma forma de cumprimentar menos física. E uma comida incomparável com qualquer outra, claro. Coordena todas as áreas da restauração e serviços de catering, mas adora pôr as mãos na massa.

Quando era pequenino queria ser polícia. Depois, decidiu que seria juiz. O problema é que não encontrava motivação na escola. Já cozinhava para a família desde os 12 anos, a inventar pratos, por isso optou por seguir mesmo por esse caminho. O Mezze é uma experiência de vida: “mais do que uma cozinha, são as pessoas que aqui trabalham, novas realidades, novas culturas. Obriga-nos a adaptarmo-nos como profissionais e como pessoas”.

As imagens de Pokhara, no Nepal, são deslumbrantes. O Ishwor orgulha-se da terra onde nasceu, apesar de ter sido obrigado a procurar mais oportunidades de vida fora do país. Primeiro no Dubai, onde trabalhou oito anos na área da segurança e como rececionista. Não sente uma hierarquia opressiva no Mezze e é disso que mais gosta no seu trabalho. Mas ver que os clientes adoram a comida é mesmo o que o deixa feliz.

O facto de ser do Brasil não significa que não tenha uma mão preciosa para a cozinha do Médio Oriente. Tem um paladar apurado, que tão depressa a torna especialista em kibbehs como na tagine, que prepara como se fosse uma antiga receita da família. Passou por várias cozinhas antes de chegar ao Mezze, mas ficou mesmo por aqui. Leva o seu samba para os convívios e o seu sorriso para cada dia de trabalho.

O sonho do Mohamad é voltar à Síria, de onde saiu, completamente sozinho, em 2021. Em Damasco, trabalhava num barbeiro em part-time, ao mesmo tempo que fazia o liceu. Saiu ainda novo de mais para começar uma carreira. Foi no Mezze que começou: é o nosso padeiro e o seu “khubz” está cada vez melhor!